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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Qualidade da água na bacia do rio Doce piora dois anos após tragédia em Mariana

Postado em 07/11/2017 no site da S.O.S Mata Atlântica (www.sosma.org.br).
A qualidade da água de rios que compõem a bacia do rio Doce piorou dois anos após a maior tragédia ambiental do país, ocorrida com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Expedição realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica, entre os dias 11 e 20 de outubro, revela que a qualidade da água está ruim ou péssima em 88,9% dos 18 pontos de coleta analisados e que apenas dois pontos apresentam qualidade regular (11,1%). O estudo completo está disponível em: https://www.sosma.org.br/quem-somos/publicacoes/

Nos 18 pontos monitorados, a qualidade da água está imprópria para consumo humano e usos múltiplos, como pesca, irrigação e produção de alimentos. Apenas três pontos apresentam conformidade com o padrão definido na legislação brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de minérios.

Em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim foi constatada ausência de vida aquática, como girinos, sapos e peixes. “Nesses locais, o espelho d’água estava repleto de insetos e pernilongos, vetor de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chicungunha e febre amarela”, observa Malu Ribeiro, especialista em Água da Fundação SOS Mata Atlântica responsável pela expedição.

A equipe da Fundação percorreu o rastro da lama por 733 km ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo – a uma centena de afluentes que formam a bacia e banham 29 municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. 

























Confira o comparativo entre as análises realizadas em novembro 2015, logo após o rompimento da barragem, e em 2016 e 2017:

Apesar de visualmente a água estar mais clara, Malu Ribeiro explica que o sedimento de rejeito de minério está presente em todo o leito do rio e, por ser muito fino, qualquer movimento das águas faz com que ele fique em suspensão, aumentando novamente a turbidez para índices impróprios.

“A seca extrema e o baixo volume das águas causaram uma concentração dos poluentes, o que fez com que a poluição, apesar de imperceptível a olho nu, esteja em concentração bem maior do que no ano passado”, disse Malu.

Apesar de estarem longe do cenário ideal, nove pontos de coleta apresentaram sinais de vida aquática. Eles estão localizados onde existem fragmentos de mata nativa ou que contam com áreas de preservação permanente. “Esses locais foram menos afetados com o impacto da lama. Mesmo com tamanha tragédia, é possível notar alevinos, conchas, girinos e poucos peixes, sobretudo nos pontos próximos a afluentes de maior volume”, diz Malu.

A elevada turbidez, o baixo volume dos rios, o excesso de nutrientes em decomposição lançados pelo esgoto sem tratamento e as altas temperaturas reduziram os índices de oxigênio dissolvido. “Para a recuperação da qualidade da água, é essencial que sejam adotadas medidas efetivas de restauração florestal com espécies nativas, de revitalização da bacia e a ampliação dos serviços de saneamento básico e ambiental nos municípios afetados”, acrescenta Malu. 

Saúde pública

A água do rio Doce continua fora dos padrões legais para um rio de classe 2 e apresenta concentrações elevadas de sólidos em suspensão e metais pesados, como manganês, cobre, alumínio e ferro, em diferentes trechos monitorados ao longo da expedição.

Apenas dois pontos de coleta, localizados em Perpétuo Socorro e Governador Valadares, ambos no rio Doce, não apresentam índices de cobre na água. Nos outros 16 pontos monitorados, a concentração desse metal está acima do permitido. O consumo de pequenas quantidades desse elemento pode provocar náuseas e vômitos. Quando ingerido em grandes quantidades, pode afetar os rins, inibir a produção de urina e causar anemia devido à destruição de glóbulos vermelhos.

Cinco dos pontos analisados apresentam concentração de manganês acima dos índices permitidos. A ingestão desse metal pode trazer rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza. Pesquisas realizadas em animais apontam que o excesso desse componente no organismo provoca alterações no sistema nervoso central e pode levar à impotência.

Metodologia

A Fundação SOS Mata Atlântica apresenta neste estudo o retrato da qualidade da água na bacia hidrográfica do rio Doce e a evolução dos Índices de Qualidade da Água (IQA) apurados nos anos de 2015, 2016 e 2017, por meio do projeto Observando os Rios, com parceria da Universidade de São Caetano do Sul – núcleo de pesquisa IPH (Índices de Poluição Hídrica).

Para a medição dos parâmetros definidos no IQA, a SOS Mata Atlântica desenvolveu um kit de análise que utiliza reagentes colorimétricos que permitem realizar as coletas e análises dos indicadores de qualidade da água em campo por voluntários do Observando os Rios, projeto que tem patrocínio das empresas Ypê e Coca-Cola Brasil.

Em virtude das especificidades do dano provocado pelo rompimento da barragem, nas três expedições técnicas de monitoramento, em 2015, 2016 e 2017, foram utilizados equipamentos especiais, sondas eletrônicas e protocolos específicos para as coletas e medições em campo e para as amostras analisadas em laboratório, incluídos os índices de Condutividade Elétrica do Meio Aquático, Total de Sólidos Dissolvidos (TDS) , Dureza, Cobre (Cu), Alumínio (Al), Magnésio (Mg2+), Manganês (Mn2+) , Ferro (Fe3+) e microbiológicos.

Os dados do IQA, as análises microbiológicas e de metais pesados reunidos no relatório foram elaborados com base na legislação vigente e em seus respectivos protocolos.

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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Estudos alertam para novos riscos da lama da SAMARCO e ameaça o Arquipélagos de Abrolhos

Conforme postado no site da ISTOÉ em 21/9/2017. 

Estudos realizados por um grupo de especialistas apontam que o monitoramento dos rejeitos de mineração que vazaram com o rompimento da Barragem da SAMARCO, maior tragédia ambiental do País, ocorrida na zona costeira do Espírito Santo e sul da Bahia, precisa ser mantido e, mais ainda, aprimorado, por conta do nível de contaminação produzido.

Os estudiosos afirmam que, no momento, o fluxo da lama, que se concentra no fundo do mar, segue na direção norte do litoral e ainda representa uma forte ameaça à saúde ambiental do banco de Abrolhos, a maior formação de recifes de coral do Atlântico Sul.

O diagnóstico foi feito pelo oceanólogo Adalto Bianchini, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Heitor Evangelhista, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Eles apresentaram nesta quarta-feira, 21, ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) os resultados das três expedições de avaliação dos impactos da lama na região da foz do Rio Doce. Trata-se do primeiro estudo técnico-científico conclusivo a respeito dos danos causados à zona marinha após a tragédia de 2015.

O ICMBio, que coordena o comitê interinstitucional criado na época do desastre para acompanhar as medidas de proteção ao meio ambiente, vai repassar os dados aos demais membros do grupo, entre eles IBAMA, Agência Nacional de Águas (ANA), ANVISA, Instituto Estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo, e articular novas ações.

Após o rompimento da barragem da SAMARCO, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), e a chegada da lama na foz do rio Doce, em novembro de 2015, o ICMBio e parceiros fizeram três expedições à área litorânea atingida pelo desastre para verificar o grau de contaminação – a primeira em janeiro, a segunda em abril e a terceira em dezembro do ano passado.

Os exames de laboratório detectaram, inicialmente, alto grau de contaminação por metais pesados, que foi diminuindo à medida que a lama se espalhava. A área da costa atingida pelos rejeitos, que se estende por centenas de quilômetros a partir da foz do Rio Doce, está ambientalmente seis vezes mais “estressada” do que o normal. Nesse caso, segundo informações do ICMBio, é recomendável manter a proibição da pesca, principalmente a de arrasto, que revolve o fundo do mar e pode causar novas contaminações.

Ao comentar as ameaças que recaem sobre a região de Abrolhos, onde o ICMBio mantém o parque nacional marinho, os pesquisadores admitiram a presença do que chamaram de “micropartículas” de ferro nas amostras de água coletadas na região. No entanto, segundo eles, ainda não é possível afirmar “taxativamente” que o arquipélago foi atingido pela contaminação.

Os especialistas recomendaram a manutenção do monitoramento em toda a região atingida pelos rejeitos, com a inclusão de novas medidas de avaliação. Só assim será possível saber se o impacto dos danos causados ao meio ambiente é “agudo”, ou seja, de curto prazo e reversível, ou “crônico”, isto é, definitivo.


Links de sustentação:

http://www.oeco.org.br/noticias/lama-da-samarco-chega-no-mar-e-interdita-praias-capixabas/

http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2016/01/mancha-de-lama-da-samarco-pode-ter-avancado-para-abrolhos

http://coralvivo.org.br/wp-content/uploads/arquivos/2262file-4.pdf

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/11/1707279-mar-de-lama-de-mariana-mg-ameaca-soterrar-recife-de-corais.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/01/1727143-lama-da-samarco-pode-ter-chegado-a-abrolhos-ba-diz-ibama.shtml

https://oglobo.globo.com/brasil/recifes-de-abrolhos-ameacados-pela-lama-de-mariana-18058373

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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Descaso ou Despreparo?

Mais de 29 mil carcaças de peixes foram recolhidas depois do desastre. Pesquisador da SOS Mata Atlântica recolhe amostras da água para teste de turbidez do Rio Doce. http://www.gazetaonline.com.br


Nesse  domingo último (06/11), o Fantástico (Rede Globo) noticiou uma série de coisas sobre o desastre ambiental, leia-se crime mesmo, que foi o rompimento da barragem de Fundão, no subdistrito de Mariana-MG, conhecido como Bento Rodrigues, que fica na região central do estado.  

O título da publicação até que poderia ser esse: 

DESCASO ou DESPREPARO?!... pois é disso que a reportagem trata. 

Aliás, muito se diz sobre esse que é considerado o maior desastre ambiental já ocorrido no país... e que fez um ano em 05 de novembro, sábado agora. A barragem de rejeitos de mineração, pertencia a SAMARCO Mineração S.A., associada a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton, as maiores minerados do mundo, é ela, a responsável direta pelo acontecido... o quê muita gente não diz, ou diz de forma incompleta, é que muito do que devia ter sido feito, nada ainda se fez..

Algumas coisas que estão sendo sugeridas, são absurdas. O alagamento da área de Bento Rodrigues é uma. De que adiantará isso, a não ser transformar o local em um imenso lago de água suja e contaminada por metais pesados como arsênio, chumbo e mercúrio? Algo inclusive, estranho até hoje, pois a SAMARCO havia alegado que a lama carreada não era tóxica... é claro, muitos que analisaram a lama, atestaram o contrário... mas há um fato aqui que poucos citam, e que pode até não isentar a SAMARCO, mas ameniza um pouco... muito dessa toxidade pode ser proveniente de garimpos ilegais realizados cladestinamente na região... mas isso já seria outra história... uma historia que merece e precisa ser apurada.

Além da morte das 19 pessoas, houve a mortandade de 98 espécies de peixes, 13 delas eram endêmicas a região e 11 já estavam na lista de animais em extinção, com isso, na praia de Regência, onde o Rio Doce desagua, aves conhecidas como Andorinhas-do-mar morreram de fome, ao realizarem a autopsia, ficou constado que todas estavam de estômago vazio. A reportagem não diz, mas já foi constado que Capivaras, Jacarés e Lontras, entre outros mais, também entraram na lista de prejudicados por esse grande dano ecológico

O turismo e o comércio, por onde a lama passou foi afetado, causando assim um grande prejuízo financeiro a todos aqueles que ao longo do Rio Doce se estabeleceram. Pescadores, surfistas e donos de pousadas, que vivem em Regência dizem na reportagem o quanto sofrem com a situação.
Manifestantes protestam com cruzes em Bento Rodrigues. (Foto: Reprodução/TV Globo)
Esse desastre ambiental foi, e ainda é, uma sequência de erros... demonstrando que apesar da SAMARCO estar "indenizando" a população, que de forma direta ou indireta foi afetada, que os órgãos fiscalizadores (leia-se ANA, IBAMA, etc...) após o ocorrido, lembrarem que ganham para isso, que os governos do estado de Minas Gerais, do Espírito Santo e Governo Federal, cobram medidas compensatórias... nada ainda de concreto está sendo feito... não é à toa que a população de Bento Rodrigues se manifestou em relação a isso...  e são esses, que sofreram de fato, que estão sendo a voz que a natureza tanto queria para dizer o quanto o homem anda brincando com o planeta.

Links de Sustentação:




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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Lama da Samarco chega em Abrolhos, diz IBAMA

Conforme postado no Site ((o))eco
Em 08 de janeiro de 2016

A presidente do IBAMA mostra imagem da mancha no oceano que atingiu o santuário de Abrolhos. Valter Campanato/Agência Brasil.

Uma mancha marrom provavelmente vinda dos rejeitos das barragens da mineradora Samarco atingiu o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A informação foi divulgada hoje (07/01/2016) pelos presidentes do IBAMA, Marilene Ramos, e do Instituto Chico Mendes, Claudio Maretti.


A lama de rejeitos da mineradora Samarco atingiu a foz do Rio Doce no final de novembro (21/01/2015), contaminando praias e impactando a desova das tartaruga-gigante (Dermochelys coriacea). Nos últimos dois dias, as chuvas fortes na região fizeram a mancha se espalhar mais ao norte do estado do Espírito Santo.


O sobrevoo na região leva a crer que a origem dela [mancha] é a lama de rejeitos da Samarco e, por isso, já notificamos a empresa [Samarco] para realizar coletas e avaliar se é de fato a lama despejada no Rio Doce”, disse Marilene Ramos. Abrolhos está a 250 km da foz do Rio Doce.


Ainda segundo a presidente do IBAMA, os técnicos que conhecem o local “tiveram praticamente certeza" de que a mancha é oriunda do desastre da Samarco.

Abrolhos


Por enquanto, não há nenhuma restrição de visitação na região sul da Bahia e o parque segue aberto. Os impactos sobre o santuário ainda será avaliado.


“O dano imediato é a redução da produtividade da vegetação marinha, fitoplanctons e corais, o que causa prejuízo para a vida marinha. É como se eu cobrisse a Mata Atlântica ou a Amazônia com uma fumaça que dificultasse a realização de fotossíntese”, explica Claudio Maretti, presidente do ICMBio, órgão responsável pela gestão do parque. Ainda segundo Maretti, os impactos serão sentidos a longo prazo e que especialistas não descartam a possibilidade de extinção de corais, mas até agora não verificaram aumento no número de mortes de peixes e aves marinhas.


Relembre a história


Há dois meses, o rompimento de uma barragem da Samarco destruiu o distrito de Bento Rodrigues, na região central de Minas Gerais, onde viviam cerca de 600 pessoas, e deixou uma mancha de destruição no meio do caminho: 17 pessoas foram mortas, 2 ainda estão desaparecidas e a fauna do Rio Doce foi destruída.


Em novembro, 14 dias após a tragédia, a ministra Izabella Teixeira descartou a possibilidade da lama de rejeitos atingir o arquipélago de Abrolhos. Na ocasião, o Ministério do Meio Ambiente se baseava na modelagem feita pelo grupo de pesquisa do oceanógrafo Paulo Rosman, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UFRJ, que afirmava que a lama deveria se deslocar em direção ao Sul, em função do fluxo da maré.


*Com informações da Agência Brasil. 

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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Conheça a GIAIA


Para ajudar a identificar os resultados do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarcoque inundou o Rio Doce com lama tóxica, matando pessoas e parte da biodiversidade da região, em 5/11/2015, no município de Mariana, em MG -, um grupo de pesquisadores resolveu trabalhar por conta própria: Grupo Independente para Avaliação do Impacto Ambiental Samarco/Rio Doce (GIAIA).

Para se comunicar com o público e, entre eles, criaram um blog – Do Caos à Lama -, além de página no Facebook (2.361 curtidas até a publicação deste texto) e um grupo fechado, na mesma rede social (2627 membros). Neste último, trocam observações entre os participantes e interessados e outros especialistas. E ainda divulgam e-mail para quem quiser fazer propostas de trabalho ou outras observações científicas

giaia.riodoce@gmail.com


Conforme dito no site:


"O que aconteceu com o Rio Doce? Estamos presenciando um dos maiores desastres socioecológicos brasileiros deste século . Pessoas desabrigadas, abastecimento de água comprometido, solo contaminado, animais dizimados e uma enorme perda de diversidade terrestre e aquática. Paira no ar um descaso coletivo e, por isso, não temos tempo para luto. Nós somos o Grupo Independente para Análise do Impacto Ambiental (GIAIA) – Samarco/Rio Doce, um grupo formado por cientistas e profissionais das mais diversas áreas do conhecimento dispostos a analisar, de forma independente e desvinculada de entidades privadas, públicas e do terceiro setor, esse crime ambiental. O que de fato aconteceu com as barragens da Samarco? Houve negligência? Qual o impacto ambiental e a extensão do dano? Quem se responsabilizará? Existirá possibilidade da recuperação das áreas afetadas? Qual será o destino da fauna e das pessoas que dependiam do Rio Doce? Se você apoia nossa causa, junte-se a nós e vamos buscar essas respostas pelo bem da coletividade!  Acesse nossa página no Facebook e mantenha-se informado sobre nossas atividades: www.facebook.com/giaia2015


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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Lama até o pescoço

Repassando e-mail

Notícia - 15 - nov - 2015
Vista do arraial de Bento RodriguesVictor Moriyama / Greenpeace)
Greenpeace chega as comunidades de Mariana, em Minas Gerais, para documentar a tragédia causada pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco.
14 de novembro - sábado

Terra arrasada não é suficiente para definir o cenário desolador que deu lugar aos distritos da cidade mineira de Mariana. Contrariando os avisos de que todos os acessos ao arraial de Bento Rodrigues, primeira comunidade a ser atingida pelo rompimento das barragens da Samarco, estariam fechados, encontramos uma estrada privada – de mineração – que nos deixou a menos de 100 metros do pequeno vilarejo.


No caminho, cenas aterradoras de enormes porções de terra totalmente lavadas pela força da lama composta de rejeitos minerais. Pesquisadores do Greenpeace levantaram que um corredor de aproximadamente 500 hectares de lama foi formado no arredores do arraial de Bento Rodrigues, o equivalente a 700 campos de futebol.
A estrada estava de fato bloqueada, mas não pelo Corpo de Bombeiros ou Defesa Civil, e sim pela própria lama que engolfou parte do caminho. Hora de seguir a pé. Andamos dois quilômetros em meio em um mar mole de barro até alcançarmos um morro que nos colocou frente a frente com a comunidade de Bento Rodrigues. Segundo os moradores, cerca de 80% do lugar foi devastado, restando apenas escombros e animais abandonados que vagam pela destruição em busca de qualquer alimento.
Antônio Geraldo de Paula perdeu duas casas na tragédia, mas sua família inteira sobreviveu (© Victor Moriyama / Greenpeace)
Antônio Geral de Paula, conhecido como "Bem Amado", morava há 40 anos no arraial com a esposa, cunhado, filhos e neto. “Não perdi ninguém, graças a Deus. Em 10 minutos  lama veio de lá a aqui. Perdi duas casas... estamos voltando para tentar pegar os bichos. As galinhas e os cachorros tão tudo lá, passando fome. Eu até entendo ter que fechar o local, mas eles podiam deixar a gente tirar as coisas de lá pelo menos. Ou fazer pelo menos um grupo de voluntários para voltar com os bombeiros”. O agricultor de 52 anos aponta para a caçamba da sua caminhonete, onde dois bezerros trêmulos de medo e ensopados de lama se equilibram no piso frisado e irregular. “Elas tavam atoladas no barro, de hoje não passariam. Por sorte a gente conseguiu salvar”. Perguntado como conseguiu escapar da enxurrada de lama, "Bem Amado" diz que foi o grito dos moradores que salvou ele e sua família.

Entre o morro e o arraial de Bento Rodrigues, um antigo córrego se transformou num rio intransponível de lama. Conseguimos fazer imagens de longe e um sobrevoo com o drone. Quanto mais perto chegávamos, mais a perna afundava no solo mole e mais alto gritavam os trovões da chuva que se aproximava.

Seguimos então para o distrito de Paracatu de Baixo, o segundo arraial mais atingido pela tragédia. De um lado, estrada bloqueada por uma barreira de terra. Do outro, uma ponte que foi consumida e desaparecera após a violenta lama chegar à comunidade. Novamente um cenário desolador, onde os verdes morros de Minas Gerais foram substituídos por irregulares montanhas de lama cinza
Encontramos com Geraldo Nascimento, de 69 anos, olhando da beira da estrada uma casa amarela destruída. “Essa casa era minha. Morava aí faz mais de 40 anos com a minha mulher. Meus filhos já saíram todos de Mariana, graças a Deus não precisaram passar por isso”, ele aponta para o buraco aberto na parede de seu quarto. “Eles ligaram aqui para casa né, falaram pra gente sair. Deu tempo de ir para a casa da minha filha, aqui perto. Agora a Samarco me disse que quer reconstruir a minha casa. Mas parece que tem outra barragem aí em risco né, então acho que aqui eu não fico mais não”. 
A casa do Sr. Geraldo foi destruída pela força da lama (© Victor Moriyama / Greenpeace)
De fato a barragem do Germano, que compõe o complexo de barragens da Samarco e é ainda maior que as do Fundão e de Santarém (as duas que arrebentaram no dia 5 de novembro), está com um trinca de 3 metros, segundo o Corpo de Bombeiros. Tentamos acesso, mas em vão. Na portaria, o guarda nos informou que nem mesmo a Samarco está autorizada a acessar a área.

De volta à Mariana, visitamos o ginásio municipal que recebia as doações vindas de todo o país. Pilhas e pilhas de fraldas, sapatos, produtos de higiene pessoal, cobertor, roupa, produtos de limpeza, brinquedos infantis e galões de água se acumulavam no local. Segundo a coordenadora dos voluntários, Adelma Borges, as doações vieram de todo o Brasil e não param de chegar. “Vamos interromper o recebimento de doação no domingo, às 16h. Já temos muita coisa. O estádio municipal também tá cheio de doação, mais que aqui. Agora a gente precisa organizar tudo”.
Voluntário em meio às pilhas de doações no Ginásio Municipal de MarianaVictor Moriyama / Greenpeace)
A solidariedade massiva, tanto de quem doou, como dos inúmeros voluntários correndo para lá e para cá, é um pequeno consolo ao nosso dia repleto de tristeza causada pela tragédia. Agora seguiremos o curso do Rio Doce, que foi tomado pela lama, para documentar os impactos que os rejeitos minerais da Samarco – empresa controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton – deixaram em seu caminho.
15 de novembro - domingo
O RIo Rigualacho, na comunidade de Paracatuzinho, Minas Gerais, deu lugar a um corredor de lama cercado por árvores mortas (© Victor Moriyama / Greenpeace)
Pela manhã chegamos ao povoado de Paracatuzinho, em Minas Gerais, já a 100 quilômetros da cidade de Mariana. O Rio Rigualaxo, que corta essa comunidade e outras no caminho, deu lugar a um rio de lama cercado de montes e mais montes de barro seco. Olhando suas beiradas, árvores jazem deitadas como peças de dominó caídas ao longo de todo seu curso. Dá para notar a marca da lama em seus troncos, que alcança quase a copa das árvores.

Continuamos numa estradinha de terra, beirando a destruição, rumo a cidade de Barra Longa, ainda no estado mineiro, onde soubemos que muitas casas também foram destruídas e famílias desalojadas. No caminho, passando pelo povoado de Barreto, a estrada estava bloqueada por um caminhão pipa e carros de funcionários da Samarco, que estavam no local distribuindo doações.

Nos aproximamos e conversamos com Sr. Francisco, nascido em Barreto, que acompanhava os funcionários da mineradora com muita curiosidade. Segundo ele, é impossível o acesso para as cidades vizinhas, uma vez que diversas pontes foram destruídas pela força da lama. “Nós estamos presos aqui. Minha mulher está precisando de remédio para o coração, mas nunca chega”.

Nesse momento, os funcionários da Samarco interromperam nosso papo e chamaram o Sr. Francisco e outros dois amigos dele que estavam conosco para um ligeiro mídia training. Ouvíamos de longe: “Muitas pessoas virão aqui, fazer entrevista... As pessoas sempre vão querer falar o lado ruim das coisas. Mas vocês também têm que falar do lado bom, que não é tudo ruim, que também estamos fazendo o bem”.

Funcionários da Samarco chamam Sr. Francisco, de chapéu, para uma 'orientação' (© Victor Moriyama / Greenpeace)

Com o caminhão pipa enchendo as caixas d’água de Barreto, tivemos que dar meia volta e tentar outro caminho. Depois de patinar o carro em muita lama, chegamos a uma ponte totalmente destruída. O único jeito era voltar até a estrada de Mariana para seguir direto a cidade de Ipatinga.

No caminho, ao cruzar o pequeno município mineiro de Ilhéus de Prata, a cerca de 120 quilômetro de onde estávamos, documentamos pela primeira vez o Rio Doce, que ironicamente amarga uma lenta morte. O Greenpeace está trabalhando ao lado de parceiros para identificar o grau de contaminação dessa água, que contém rejeitos minerais como alumínio, ferro e magnésio.

Chegamos a Ipatinga com um restinho de luz do dia, o suficiente para registrarmos um Rio Doce bem mais alargado, ainda tomado de lama. O impacto visual é forte. O impacto ambiental, imensurável.


Vista do Rio Doce tomado de lama, Ipatinga, Minas GeraisVictor Moriyama / Greenpeace)


Alcançamos Governador Valadares às 21h de um domingo aparentemente tranquilo na cidade. Mas sabemos que não é nada disso: falta água na cidade mineira com mais de 270 mil habitantes, que se encontra em estado de calamidade pública. Agora nosso trabalho será por aqui, e depois continuamos até o litoral do Espírito Santo para ver a chegada da lama ao Oceano Atlântico.


Veja mais fotos da expedição no site do Greenpeace, é só clicar aqui :

Como ajudar as vítimas da tragédia de Mariana

Voluntários moradores da cidade de Mariana em Minas Gerais ajudam a separar doações como alimentos, roupas, produtos de limpeza e higiene pessoal e outros itens para os moradores afetados pela lama. Estima-se que 600 moradores afetados irão receber estas doações. (Fotos: Victor Moriyama/Greenpeace)


Muitos de nós, inconformados com as notícias que chegam de Mariana e região, estamos buscando formas de ajudar. Para facilitar essa busca, destacamos os quatro principais sites para informações:

  • O Rio Doce Help! é uma iniciativa prática e ágil de um carioca e um mineiro que dá diversas opções para quem quer se envolver.

  • O Catraca Livre fez uma grande pesquisa, com várias opções de apoio, que vão de doações de alimentos a trabalho voluntário para quem quer ajudar os moradores e animais da região.

  • Já a Cruz Vermelha de Belo Horizonte está arrecadando água, roupas, cobertores e alimentos não perecíveis em sua sede e de lá envia para todas as cidades que necessitam de apoio através da defesa civil e das prefeituras. Mas já adiantamos: o time de voluntários da Cruz Vermelha de Minas Gerais está em Mariana auxiliando os bombeiros e a defesa civil e, no momento, não está recrutando novos voluntários.

  • Se você quer dar apoio financeiro, a Juntos está com uma campanha de arrecadação que já é um sucesso.
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